quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Por Que A Psicanálise?

                                                           Resumo Do Capítulo 1

                                                           A Derrota Do Sujeito



      01 O Manifestar-Se Do Sofrimento Psíquico - O Sofrimento Psíquico manifesta-se atualmente sob a forma da Depressão. Atingido no corpo e na alma por essa estranha síndrome em que se misturam a Tristeza e a Apatia, a busca da Identidade e o Culto De Si Mesmo, o homem deprimido não acredita mais na validade de nenhuma Terapia. No entanto, antes de rejeitar todos os tratamentos, ele busca desesperadamente vencer o Vazio de seu desejo. Por isso, passa da Psicanálise para a Psicofarmacologia e da Psicoterapia para a Homeopatia, sem se dar tempo de refletir sobre a origem de sua infelicidade. Aliás, ele já não tem tempo para nada, à medida que se alongam o tempo de Vida e o do Lazer, o tempo do desemprego e o tempo do tédio .






      02 O Mundo Do "Contrário" - Quanto mais a Sociedade apregoa a emancipação, sublinhando a Igualdade de todos perante a lei, mais ela acentua as diferenças. No cerne desse dispositivo, cada um reivindica sua singularidade, recusando-se a se identificar com as imagens da Universalidade, julgadas caducas. Assim, a era da Individualidade substitui a da subjetividade; dando a si mesmo a Ilusão de uma liberdade irrestrita, de uma independência sem desejo e de uma historicidade sem história, o homem de hoje transformou-se no contrário de um sujeito. 

      Longe de construir seu Ser a partir da Consciência das determinações Inconscientes que o perpassam à sua revelia, longe de ser uma Individualidade Biológica, longe de pretender-se um sujeito Livre, desvinculado de suas raízes e de sua Coletividade, ele se toma por senhor de um destino cuja significação reduz a uma reivindicação normativa. Por isso, liga-se a redes, a grupos, a coletivos e a comunidades, sem conseguir afirmar sua verdadeira Diferença.






      03 A Era Das Medicinas Paralelas - Cada paciente é tratado como um ser Anônimo, pertencente a uma totalidade orgânica. Imerso numa Massa em que todos são criados à imagem de um Clone, ele vê ser-lhe receitada a mesma gama de medicamentos, seja qual for o seu Sintoma. Ao mesmo tempo, no entanto, busca outra saída para seu infortúnio, De um lado, entrega-se à Medicina Científica, e de outro, aspira a uma Terapia que julga mais apropriada para o reconhecimento de sua identidade. Assim, perde-se no Labirinto Das Medicinas Paralelas.

      É por isso que assistimos, nas sociedades ocidentais, a um crescimento inacreditável do Mundinho Dos Curandeiros, dos Feiticeiros, dos Videntes e dos Magnetizadores. Frente ao cientificismo erigido em Religião e diante das Ciências Cognitivas, que valorizavam o homem-máquina em detrimento do homem desejante, vemos florescer, em contrapartida, toda sorte de práticas, ora surgidas da pré-história do Freudismo, ora de uma concepção ocultista do corpo e da mente: magnetismo, sofrologia, naturopatia, iridologia, auriculoterapia, energética transpessoal, sugestologia, mediunidade, etc. Ao contrário do que se poderia supor, essas práticas seduzem mais a classe média - funcionários, profissionais liberais e executivos - do que os meios populares, ainda apegados, apesar da precariedade da 'Vida Social', a uma concepção republicana da medicina científica.

      (A Ilusão Da Cura) - Essas práticas tem como denominador comum o oferecimento de uma crença - e portanto, de uma Ilusão De Cura - a pessoas mais abastardas, mais desestabilizadas pela crise econômica, e que ora se sentem vítimas de uma tecnologia médica demasiadamente distanciada de seu sofrimento, ora vítimas da impotência real da medicina para curar certos Distúrbios Funcionais. Assim, é que L'Express publicou uma pesquisa que revela que 25% dos franceses passaram a buscar na reencarnação e na crença em vidas anteriores uma solução para seus problemas existenciais (pesquisa publicada em 1997).






      04 A Era Da Evitação Na Sociedade Moderna - A sociedade democrática moderna quer banir de seu horizonte a realidade do Infortúnio, da Morte e da Violência, ao mesmo tempo procurando integrar num sistema único as diferenças e as resistências. Em nome da globalização e do sucesso econômico, ela tem tentado abolir a ideia de Conflito Social. Do mesmo modo, tende a criminalizar as revoluções e a retirar o heroísmo da guerra, a fim de substituir a política pela ética e o julgamento histórico pela sanção judicial. Assim, ela passou da Era Do Confronto para a Era Da Evitação, e do culto da glória para a revalorização dos covardes. Hoje em dia, não é chocante... transformar os heróis em traidores... Nunca se celebrou tanto o dever da memória, nunca houve tanta preocupação com a Shoah (termo hebraico que designa o genocídio perpetrado pelos nazistas contra os judeus na Segunda Guerra Mundial) e o extermínio dos judeus e, no entanto, nunca a revisão da história foi tão longe.






      05 O Silencioso Ódio Ao Outro - Daí uma concepção da norma e da patologia que repousa num princípio intangível: todo indivíduo tem o direito e, portanto, o dever de não mais manifestar ser Sofrimento, de não mais se entusiasmar com o menor ideal que não seja o do pacifismo ou da moral humanitária. Em consequência disso, o ódio ao outro tornou-se sub-reptício, perverso e ainda mais temível, por assumir a máscara de dedicação à vítima. Se o ódio pelo outro é, inicialmente, o ódio a si mesmo, ele repousa, como todo Masoquismo, na negação imaginária da alteridade. O outro passa então a ser sempre uma vítima, e é por isso que se gera a intolerância, pela vontade de instaurar no outro a coerência soberana de um Eu Narcísico, cujo ideal seria destruí-lo antes mesmo que ele pudesse existir.






      06 Depressão X Histeria - A substituição é acompanhada, com efeito, por uma valorização dos processos psicológicos de normalização, em detrimento das diferentes formas de exploração do Inconsciente. Tratado como uma Depressão, o Conflito Neurótico Contemporâneo parece já não decorrer de nenhuma casualidade psíquica oriunda do Inconsciente. No entanto, o Inconsciente ressurge através do corpo, opondo uma forte Resistência às disciplinas e às práticas que visam a repeli-lo. Daí o relativo fracasso das Terapias que proliferam. Por mais que estas se debrucem com compaixão sobre a cabeceira do sujeito depressivo, não conseguem curá-lo nem apreender as verdadeiras causas de seu tormento. Só fazem melhorar seu estado,deixando-o esperar por dias melhores... 

      A Histeria sempre pôs em primeiro plano o aparelho locomotor. Ficamos impressionados ao ver como se pode esquecê-la. E também o quanto o fato de evocá-las desperta, no pessoal médico e não médico, inquietação, recusa ou mesmo agressividade em relação ao paciente, assim como por parte daquele ou daquela que recebe esse diagnóstico.





      07 Pequena Nota Sobre Depressão - Saída da neurastenia, noção abandonada por Freud, e da Psicastenia descrita por Janet, a Depressão não é uma Neurose nem uma Psicose nem uma Melancolia, mas uma entidade nova, que remete a um "Estado" pensado em termos de "Fadiga", "Déficit" ou "Enfraquecimento Da Personalidade". O crescente sucesso dessa designação deixa bem claro que as sociedades democráticas do fim do século XX deixaram de privilegiar o conflito como núcleo normativo da formação subjetiva. Em outras palavras, a concepção freudiana de um sujeito do Inconsciente, Consciente de sua liberdade, mas atormentado pelo Sexo, pela Morte e pela Proibição, foi substituída pela concepção mais psicológica de um indivíduo depressivo, que foge de seu Inconsciente e está preocupado em retirar de si a essência de todo o conflito.






      08 O Que Busca O Depressivo? - ... o deprimido deste fim de século (XX) é herdeiro de uma dependência viciada no mundo. Condenado ao esgotamento pela falta de perspectiva revolucionária, ela busca na droga ou na religiosidade, no higienismo ou no culto de um corpo perfeito o ideal de uma felicidade impossível... É assim que, atualmente, os consumidores de tabaco, álcool e psicotrópicos são assemelhados a toxicômanos, considerados perigosos para eles mesmos e para a coletividade. Ora, dentre esses novos "doentes", os tabagistas e os alcoólatras são tratados como deprimidos a quem se receitam psicotrópicos. Mas, que medicamentos do espírito será preciso inventar, no futuro, para tratar da dependência dos que houverem "curado" de seu alcoolismo, seu tabagismo ou algum outro vício (o sexo, a comida, o esporte, etc.), substituindo um abuso por outro? 


  

Por Que A Psicanálise?


Título: Por Que A Psicanálise?
Idioma: Português
Páginas: 164
Ano Da Obra: 1999
Ano De Edição: 2000
Edição:
Editor: Jorge Zahar (Rio De Janeiro)
Autora: Elisabeth Roudinesco
Tradução: Vera Ribeiro (Psicanalista)







sábado, 20 de setembro de 2014

Sobre A Psicoterapia

                                                 Resumo Do Texto: Sobre A Psicoterapia



      1° A Fundamentação Da Psicoterapia Analítica - (f) Para concluir, senhores colegas, devo admitir que não é justo monopolizar sua atenção por tanto tempo, em favor da Psicoterapia Analítica, sem lhes dizer em que consiste esse tratamento e em que está fundamentado. Ainda assim, posto que tenha de ser breve, só posso fazer-lhes um esboço.

      Essa Terapia baseia-se, pois, na concepção de que as Representações Inconscientes - ou melhor, a Inconsciência de certos processos Anímicos - são a causa imediata dos sintomas patológicos. Partilhamos dessa convicção com a escola francesa (Janet), que aliás, numa esquematização excessiva, atribui a origem do sintoma histérico a uma idée fixe Inconsciente. Mas não temam os senhores que isso nos precipite nas profundezas da mais obscura filosofia. 

      Nosso Inconsciente não é de modo algum idêntico ao dos filósofos, e além disso, a maioria destes nada quer saber sobre algo "Psíquico Inconsciente". Entretanto, caso os senhores se situem em nosso ponto de vista, compreenderão que a transformação desse Inconsciente da vida anímica do enfermo num material Consciente só pode ter como resultado a correção de seu desvio da normalidade, bem como a eliminação da compulsão a que sua vida anímica estivera sujeita. É que a vontade Consciente estende-se apenas aos Processos Psíquicos Consciente, e toda Compulsão Psíquica é fundamentada pelo Inconsciente. Tampouco devem os senhores temer que o enfermo sofra algum dano em função do abalo trazido pela entrada do Inconsciente em sua Consciência, pois podem explicar a si mesmos, teoricamente, que o efeito somático e afetivo da moção Inconsciente. Só dominamos todas as nossas moções por dirigirmos para elas nossas mais elevadas funções anímicas, que estão ligadas à Consciência






      2° Compreendendo O Tratamento Psicanalítico - Mas também lhes é possível escolher outro ponto de vista para compreender o Tratamento Psicanalítico. O desvendamento e a tradução do Inconsciente realizam-se sob uma Resistência contínua por parte do enfermo. O afloramento desse Inconsciente está vinculado ao Desprazer que o doente o rejeita vez após outra. É nesse conflito na vida anímica do paciente que os senhores intervém; se conseguirem levá-lo a aceitar, motivado por uma compreensão melhor, algo que até então rejeitara (recalcara) em consequência dessa regulação automática do Desprazer, terão realizado com ele parte de um trabalho educativo. 






      3° A Importância Da Compreensão Da Sexualidade Humana - Mas em nenhum ponto essa pós-educação é mais necessária, nos doentes nervosos, do que no tocante ao elemento anímico de sua vida sexual. É que em parte alguma a Cultura e a Educação causaram danos tão grandes quanto justamente ai, e é também ai, como lhes mostrará a experiência, que se encontrarão as etiologias das Neuroses passíveis de ser dominadas; quanto ao outro elemento etiológico, a contribuição constitucional, ele nos é dado como algo inalterável. Mas daí decorre uma importante exigência a ser feita ao médico. Não apenas ele próprio tem de ser de caráter íntegro - "Quanto à moral, nem é preciso falar", como costumava dizer o personagem principal de Auch Einer, de Vischer -, como também deve ter superado, em sua própria pessoa, a mescla concupiscência e puritanismo com que, lamentavelmente, tantos outros estão habituados a enfrentar os problemas sexuais. 



sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Sobre A Psicoterapia

                                                   Resumo Do Texto: Sobre A Psicoterapia


       1° As Indicações E As Contra-Indicações Do Tratamento Analítico - (1) Afora a doença, deve-se reparar no valor da pessoa em outros aspectos e recusar os pacientes que não possuam certo grau de formação e um caráter razoavelmente digno de confiança. Não se deve esquecer que há também pessoas sadias que não prestam para nada, e que com excessiva facilidade, em se tratando desses indivíduos de valor reduzido, tende-se a atribuir à doença tudo o que os incapacita para a existência, quando lhes ocorre mostrar algum laivo de neurose.


     Ora, a Psicoterapia Analítica não é um procedimento para tratar a degeneração neuropática, encontrando nesta, ao contrário, sua limitação. Tampouco é aplicável às pessoas que sejam levadas à Terapia por seu próprio sofrimento, mas antes submetem-se a ela apenas pela ordem autoritária de seus familiares.





Sobre A Psicoterapia

                                                Resumo Do Texto: Sobre A Psicoterapia


      1° Nota Sobre O Tratamento Psicanalítico - Sem dúvida, o Tratamento Psicanalítico faz grandes exigências tanto ao doente quanto ao médico; do primeiro reclama o sacrifício da Sinceridade Total, mostrando-se demorado e, por isso mesmo, também custoso, para o médico, é igualmente demorado, e em vista da técnica que ele tem de aprender e praticar, é bastante trabalhoso. Por isso, considero perfeitamente justificável que se recorra a Métodos Terapêuticos mais cômodos, desde que haja uma perspectiva de conseguir algo através deles. Esse é, afinal, o único ponto decisivo; se, com o procedimento mais trabalhoso e prolongado, consegue-se mais do que com o método breve e fácil, justifica-se o uso do primeiro, apesar de tudo. Pensem, senhores, em quão mais incômoda e custosa é a Terapia de Finsen para o lúpus do que o método antes empregado de cauterização e raspagem; não obstante, o uso do primeiro significa um grande avanço, simplesmente porque rende mais; promove uma cura radical.

      Ora, não quero impor essa comparação, mas o Método Psicanalítico pode reclamar para si um privilégio similar. Na realidade, só pude elaborar e testar meu método terapêutico em casos graves ou gravíssimos; a princípio, meu material compôs-se unicamente de enfermos que tudo haviam tentado sem êxito e que tinham passado anos em instituições. Mal pude reunir experiência suficiente para dizer-lhes como se comporta minha Terapia nas doenças mais leves, de surgimento episódico, e que vemos curar-se sob as mais diversificadas influências e até de maneira espontânea. A Terapia Psicanalítica foi criada com base em doentes permanentemente incapacitados para a existência a eles destinada, e seu triunfo consiste em ter tornado um número satisfatório destes permanentemente aptos para a vida. Frente a esse resultado, todos os esforços despendidos parecem insignificantes. Não podemos dissimular de nós mesmos o que, perante o enfermo, estamos acostumados a negar: que a neurose grave, para o indivíduo que dela padece, não tem a menor importância do que qualquer caquexia, qualquer das temidas grandes enfermidades. 




quarta-feira, 27 de agosto de 2014

27 De Agosto - Dia Do Psicólogo


      No dia 27 de agosto é comemorado no Brasil o Dia do Psicólogo. Nesta mesma data, no ano de 1964, a profissão foi regulamentada através da Lei 4.119/64.  

      A palavra Psicologia vem do grego: psique (alma) + logos (estudo). Ou seja, a Psicologia estuda a alma humana. Durante toda sua história, o homem buscou respostas para questões existenciais. A filosofia sempre se ocupou desta procura por respostas. Mas estas questões, por mais humanas que fossem, diziam respeito ao conjunto da sociedade, à humanidade como um todo.  

      Por outro lado, a Psicologia buscava não uma definição do homem enquanto ser coletivo, mas sim do homem indivíduo, de suas angústias, suas inquietações.  

      Apesar de muitos filósofos e pensadores terem se ocupado da mente humana em seus estudos, foi apenas no século XVI que apareceu pela primeira vez o termo Psicologia, quando o humanista croata Marco Marulik publica A Psicologia do Pensamento Humano.  

      Ainda assim, um conceito de Psicologia, tal como conhecemos hoje, só veio surgir no século XIX, através das formulações de Wilhelm Wundt que, em 1879, criou o primeiro laboratório de Psicologia, em Leipzig , na Alemanha. Suas idéias, porém estavam ainda muito atreladas a conceitos fisiológicos e não avançaram muito.  

      Diversas escolas da Psicologia foram se desenvolvendo: Behaviorismo, Psicanálise, Gestalt, Desenvolvimentista, Humanismo. Cada uma dessas escolas tem uma perspectiva diferente de estudo da Psicologia: para os behavioristas é o comportamento, para os psicanalistas é a alma através do inconsciente, para os Gestaltistas, é o homem por meio de sua percepção;  e, para os desenvolvimentistas, a relação desenvolvimento / aprendizagem.

Cada escola aborda o “eu” conforme sua ótica, mas todas se empenham em tratar os conflitos, as angústias e o equilíbrio emocional do indivíduo. A todos os profissionais que se dedicam ao bem estar psíquico das pessoas, sejam eles seguidores de Freud, Jung ou outros pensadores, um grande abraço.










sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Sobre A Psicoterapia

                                                Resumo Do Texto: Sobre A Psicoterapia


      1° A Diferença Entre O Método Sugestivo E O Método Analítico - Observo que esse método (Analítico) é muito confundido com o Tratamento Hipnótico por Sugestão; e reparei nisso porque, com relativa frequência, colegas de quem aliás não sou o homem de confiança enviam-me pacientes - doentes refratários, é claro - com o pedido de que eu os hipnotize. Ora, ocorre que há uns seis anos já não tenho usado a Hipnose para fins terapêuticos (salvo em algumas experiências isoladas), de modo que costumo mandar esses encaminhamentos de volta com o conselho de que quem confia na Hipnose deve praticá-la pessoalmente. Na verdade, há entre a técnica Sugestiva e a Analítica a maior antítese possível, aquela que o grande Leonardo da Vinci resumiu, com relação às artes, nas fórmulas per via di porre e per via di levare. A pintura, diz Leonardo, trabalha per via di porre, pois deposita sobre a tela incolor partículas coloridas que antes não estavam ali; já a escultura, ao contrário, funciona per via di levare, pois retira da pedra tudo o que encobre a superfície da estátua nela contida. 


Leonardo da Vinci

      De maneira muito semelhante, senhores, a Técnica da Sugestão busca operar per via di porre; não se importa com a origem, a força e o sentido dos sintomas patológicos, mas antes deposita algo - A Sugestão - que ela espera ser forte o bastante para impedir a expressão da ideia patogênica. 




      A Terapia Analítica, em contrapartida, não pretende acrescentar nem introduzir nada de novo, mas antes tirar, trazer algo de fora, e para esse fim preocupa-se com a gênese dos sintomas patológicos e com a trama psíquica da ideia patogênica, cuja eliminação é sua meta. Por esse caminho de investigação é que ela faz avançar tão significativamente nossos conhecimentos. Se abandonei tão cedo a Técnica Sugestiva, e com ela, a Hipnose, foi porque não tinha esperança de tornar a Sugestão tão forte e sólida quanto seria necessário para obter a cura permanente. Em todos os casos graves, vi a Sugestão Introduzida voltar a desmoronar, e então reaparecia a doença ou um substituto dela. Além disso, censuro essa técnica por ocultar de nós o entendimento do jogo de forças psíquico, ela não nos permite, por exemplo, identificar a Resistência com que os doentes se aferram a sua doença, chegando em função disso a lutar contra sua própria recuperação; e é somente a Resistência que nos possibilita compreender seu comportamento na vida.


                                 

Sobre A Psicoterapia

                                                    Resumo Do Texto: Sobre A Psicoterapia


      1° Qual Método Psicoterápico Seria Mais Eficiente? - Há muitas espécies de Psicoterapia e muitos meios de praticá-la. Todos os que levam à meta da recuperação são bons. Nosso consolo corriqueiro, que tão liberalmente dispensamos aos enfermos - "Você logo ficará bom de novo!" -, corresponde a um dos métodos Psicoterapêuticos; mas agora que temos discernimento mais profundo da natureza da neurose, não somos obrigados a ficar restritos a esse consolo. 

      Desenvolvemos a técnica da Sugestão Hipnótica, a Psicoterapia através da Distração, do Exercício e da Provocação de afetos mais oportunos. Não menosprezo nenhuma delas e utilizaria todas em condições apropriadas. Se realmente me restringi a um único procedimento terapêutico, ao método que Breuer chamou "Catártico", mas que prefiro chamar de "Analítico", foram apenas motivos subjetivos que me decidiram a fazê-lo.

      Em decorrência de minha participação na criação dessa Terapia, sinto-me pessoalmente obrigado a me dedicar a explorá-la e a construir sua técnica. Posso asseverar que o método Analítico de Psicoterapia é o mais penetrante, o que chega mais longe, aquele pelo qual se consegue a transformação mais ampla do doente. Abandonado por um momento o ponto de vista terapêutico, posso acrescentar em favor desse método que ele é o mais interessante, o único que nos ensina algo sobre a gênese e a interação dos Fenômenos Patológicos. Graças ao discernimento do mecanismo das doenças anímicas que ele nos faculta somente ele deve ser capaz de ultrapassar a si mesmo e de nos apontar o caminho para outras formas de influência terapêutica.



quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Sobre A Psicoterapia

                                                                      Sobre A Psicoterapia


                                                                     Nota Do Editor Inglês

                                                               ÜBER PSYCHOTHERAPIE

                     
                                               (a) EDIÇÕES ALEMÃS:

                                                (1904 12 de dezembro: pronunciada como conferência perante o Wiener                                                      medizinisches Doktorenkollegium.)
                                                1905 Wien. med. Presse, 1° de janeiro, pp. 9-16.
                                                1906 S.K.S.N. I, pp. 205-217. (1911, 2ª ed., pp. 201-212; 1920, 3ª ed.;                                                   1922, 4ª ed.)
                                                1924 Technik und Metapsychol., pp. 11-24.
                                                1925 G.S., 6, pp.11-24.
                                                1946 G.W., 5, pp. 13-26.


                                                (b) TRADUÇÃO INGLESA:

                                                               "On Psychotherapy"

                                                 1909 S.P.H., pp. 175-185. (Trad. de A.A. Brill.) (1912, 2ª ed., 1920, 3ª                                                     ed.)
                                                  1924 C.P., 1, pp.249-263. (Trad. de J. Bernays.)


      A presente tradução [inglesa] é uma versão consideravelmente modificada da que se publicou em 1924.
     
      Esta parece ter sido a última conferência a ser proferida por Freud perante uma plateia exclusivamente médica. (Cf. Jones, 1955, p. 13.)


                                                              Resumo Sobre A Psicoterapia


      1° Publicada Em 1924 - Ainda hoje, a Psicoterapia se afigura a muitos médicos como um produto do misticismo moderno, e, comparada a nossos recursos terapêuticos físico-químicos, cuja aplicação se baseia em conhecimentos fisiológicos, parece francamente acientífica e indigna do interesse de um investigador da natureza. Permita-me, pois, defender ante os senhores a causa da Psicoterapia e destacar o que pode ser qualificado de injusto ou errôneo nessa condenação.





      2° Sobre A Psicoterapia - Em primeiro lugar, permitam-me lembrar-lhes que a Psicoterapia de modo algum é um procedimento terapêutico moderno. Ao contrário, é a mais antiga terapia de que se serviu a medicina. Na instrutiva obra de Loewenfeld, Lehrbuch der gesamten Psychotherapie [1897], os senhores podem verificar quais eram os métodos da medicina primitiva e da medicina da Antiguidade. A maioria deles deve ser classificada de Psicoterapia; induzia-se nos doentes, com vistas à cura, um estado de "expectativa crédula" que ainda hoje nos presta idêntico serviço. Mesmo depois que os médicos descobriram outros meios terapêuticos, os esforços psicoterápicos desta ou daquela espécie nunca desapareceram da medicina.





      3° Tratamento Das Psiconeuroses - As Psiconeuroses são muito mais acessíveis às influências anímicas do que a qualquer outra medicação. Não é um ditado moderno, e sim uma antiga máxima dos médicos, que essas doenças não são curadas pelos medicamentos, mas pelo médico, ou seja, pela personalidade do médico, na medida em que através dele exerce uma influência psíquica. Bem sei, senhores colegas, que muito lhes agrada a visão a que o esteta Fischer deu expressão clássica em sua paródia do Fausto:


                                                               Ich weiss, das Physikalische
                                                               Wirkt öfters aufs Moralische.    

                                                               Sei que o físico
                                                               Amiúde influencia o moral.

       Porém não seria mais adequado, e mais frequentemente acertado, dizer que se pode influir sobre o lado moral de um homem com meios morais, ou seja, psíquicos?



domingo, 3 de agosto de 2014

Algumas Lições Elementares De Psicanálise

                                              Resumo Do Capítulo: A Natureza Do Psíquico


      1° A Natureza Do Psíquico - A Psicanálise constitui uma parte da ciência mental da Psicologia. Também é descrita como 'Psicologia Profunda'; mais tarde, descobriremos porquê. Se alguém perguntar o que realmente significa 'O Psíquico', será fácil responder pela enumeração de seus constituintes: nossas Percepções, Ideias, Lembranças, Sentimentos e Atos Volitivos - todos fazem parte do que é Psíquico. Mas se o interrogador for mais longe e perguntar se não existe alguma qualidade comum, possuída por todos esses processos, que torne possível chegar mais perto da Natureza, ou, como as pessoas às vezes dizem, da Essência do Psíquico, então será mais difícil fornecer uma resposta.




      2° Psicologia: Uma Ciência Natural - Também a Psicologia é uma Ciência Natural. O que mais pode ser? Mas seu caso é diferente. Nem todos são bastante audazes para emitir julgamento sobre assuntos físicos, mas todos - tanto o filósofo quanto o homem da rua - tem sua opinião sobre questões psicológicas e se comportam como se fossem, pelo menos, Psicólogos Amateurs. E agora vem a coisa notável. Todos - ou quase todos - concordaram que o que é Psíquico tem realmente uma qualidade comum na qual sua essência se expressa, a saber, a qualidade de ser Consciente - única, indescritível, mas sem necessitar de descrição. Tudo o que é Consciente, dizem eles, é Psíquico, e, inversamente, tudo o que é Psíquico é Consciente; isso é auto-evidente e contradizê-lo é absurdo. Não se pode dizer que essa decisão lance muita luz sobre a natureza do Psíquico, pois a Consciência é um dos fatos fundamentais de nossa vida e nossas pesquisas dão contra ele como contra uma parede lisa, e não podem encontrar qualquer caminho além.   


      3° - ... Não se pode desprezar por muito tempo o fato de que os Fenômenos Psíquicos são em alto grau dependentes das influências somáticas e o de que, por seu lado, possuem os mais poderosos efeitos sobre os processos somáticos. 


      4° O Que É Psíquico? - A Psicanálise escapou a dificuldades como essas, negando energicamente a igualação entre o que é Psíquico e o que é Consciente. Não; ser Consciente não pode ser a essência do que é Psíquico. É apenas uma qualidade do que é Psíquico, e uma qualidade inconstante - uma qualidade que está com muito mais frequência ausente do que presente. O Psíquico, seja qual for a sua natureza, é em si mesmo Inconsciente e provavelmente semelhante em espécie a todos os outros processos naturais de que obtivemos conhecimento.



      5° A Relação Do Consciente Com O Psíquico - A questão da relação do Consciente com o Psíquico pode agora ser considerada resolvida: a Consciência é apenas uma qualidade inconstante. Mas há ainda uma objeção com a qual temos de lidar. Dizem-nos que, apesar dos fatos mencionados, não há necessidade de abandonar a identidade entre o que é Consciente e o que é Psíquico: os chamados Processos Psíquicos Inconscientes são os processos orgânicos que há muito tempo foram reconhecidos como correndo paralelos aos mentais. Isso, naturalmente, reduziria nosso problema a uma questão aparentemente indiferente de definição. Nossa resposta é que seria injustificável e inconveniente provocar uma brecha na unidade da vida mental em benefício da sustentação de uma definição, de uma vez que é claro, seja lá como for, que a Consciência só nos pode oferecer uma cadeia incompleta e rompida de fenômenos. 


      6° O Conceito De Inconsciente - ... Um filósofo alemão, Theodor Lipps, afirmou muito explicitamente que o Psíquico é em si mesmo Inconsciente e que o Inconsciente é o verdadeiro Psíquico. A Psicanálise apossou-se do conceito de Inconsciente, levou-o a sério e forneceu-lhe um novo conteúdo. Por suas pesquisas, ela foi conduzida a um conhecimento das características do Inconsciente Psíquico que até então não haviam sido suspeitadas, e descobriu-se algumas das leis que o governam. Mas nada disso implica que a qualidade de ser Consciente tenha perdido sua importância para nós. Ela permaneceu a única luz que ilumina nosso caminho e nos conduz através das trevas da vida mental. Em consequência do caráter especial de nossas descobertas, nosso trabalho científico em Psicologia consistirá em traduzir processos Inconscientes em Conscientes, e assim preencher as lacunas da Percepção Consciente...



quinta-feira, 31 de julho de 2014

Algumas Lições Elementares De Psicanálise



                                             Algumas Lições Elementares Da Psicanálise

                                                                     (1940 [1938])

                                                                Nota Do Editor Inglês

                                SOME ELEMENTARY LESSONS IN PSYCHO-ANALYSIS

                     
                                               (a) EDIÇÕES ALEMÃS:

                                                1940 Int. Z. Psychoanal., Imago, 25(1), 21-2. (Em parte.)
                                                1941 G. W. 17, 141-7. (Completo.)


                                                (b) TRADUÇÃO INGLESA:

                                                1940 Int. J. Psycho-Anal., 21 (1), 83-4. (Em parte.) (Trad. de James                                                           Strachey.)
                                                1950 C. P., 5, 376-82. (Completo. Mesmo tradutor.)


                               Resumo Do Capítulo: Algumas Lições Elementares De Psicanálise

             
      1° Psicanálise: Apreciada Ou Não...? - A Psicanálise tem poucas perspectivas de se tornar apreciada ou popular. Não se trata simplesmente do fato de que muito do que ela tem a dizer ofende os sentimentos das pessoas. Uma dificuldade quase igual é criada pelo fato de nossa ciência envolver certo número de hipóteses - é difícil dizer se elas devem ser encaradas como postulados ou como produtos de nossas pesquisas - que estão sujeitas a parecerem muito estranhas às modalidades comuns de pensamento e que contradizem fundamentalmente opiniões correntes. Mas não há saída para isso.  




                            

segunda-feira, 28 de julho de 2014

Uma Breve Descrição Da Psicanálise

                                                         Resumo Do Capítulo V


      1° Nota Sobre Sonhos - Os Sonhos  foram interpretados com sucesso pela técnica analítica - os Sonhos, que são parte da vida mental de pessoas normais e que, no entanto, podem com efeito ser encarados como produtos patológicos capazes de ocorrer regularmente em estados sadios.




      2° Neuroses X Religiões - Tomando um exemplo de outro campo, é impossível fugir à impressão da correspondência perfeita que pode ser descoberta entre as ações obsessivas de certos pacientes obsessivos e as observâncias religiosas dos crentes em todo o mundo. Certos casos de Neurose Obsessiva na realidade se comportam como uma caricatura de uma religião particular, de modo que é tentador assemelhar as religiões oficiais a uma neurose obsessiva, que foi mitigada por se tornar universalizada. Essa comparação, que sem dúvida é altamente objetável a todos os crentes, não obstante se mostrou psicologicamente muito frutífera, pois a Psicanálise logo descobriu no caso da neurose obsessiva, quais são as forças que nela combatem entre si até seus conflitos encontrarem expressão notável no cerimonial das ações obsessivas. Nada de semelhante era suspeitado no caso do cerimonial religioso até que, remontando o sentimento religioso à relação com o pai como sua raiz mais profunda, tornou-se possível apontar para uma situação dinâmica análoga também nesse caso.




      3° Primeiro Argumento - Caso possamos presumir que os aspectos mais gerais da vida mental inconsciente (conflitos entre Impulsos Instituais, Repressões e Satisfações Substitutas) estejam presentes em toda parte, e se há uma Psicologia Profunda que conduz a um conhecimento desses aspectos, podemos então razoavelmente esperar que a aplicação da Psicanálise às mais variáveis esferas da atividade mental humana em toda parte trará à luz resultados importantes e até então inatingíveis.
           Se deixarmos fora de cogitação impulsos internos pouco conhecidos, podemos dizer que a principal força motivadora no sentido do desenvolvimento cultural do homem  foi a Exigência Externa Real, que retirou dele a Satisfação Fácil de suas necessidades naturais e o expôs a perigos imensos. Essa Frustração Externa o impeliu a uma luta com a realidade, a qual findou parcialmente em uma adaptação a ela e, em parte, no controle sobre ela; contudo também o impeliu a trabalhar e viver em comum com os de sua espécie, e isso já envolvia uma renúncia de certo número de Impulsos Instintuais impossíveis de ser socialmente satisfeitos. Com os avanços ulteriores da civilização cresceram também as exigências da Repressão. A civilização, afinal de contas, está construída inteiramente sobre a renúncia ao Instinto, e todo indivíduo, em sua jornada da infância à maturidade, precisa, em sua própria pessoa, recapitular esse desenvolvimento da humanidade a um estado de criteriosa resignação. A Psicanálise demonstrou que foram predominantemente, embora não exclusivamente, os Impulsos Instintuais que sucumbiram a essa supressão cultural. Parte deles, contudo, apresenta a característica valiosa de se permitirem ser desviados de seus objetivos imediatos e colocar assim sua energia à disposição do desenvolvimento cultural, sob a forma de Tendências 'Sublimadas'. Outra parte, porém, persiste no Inconsciente como Desejos Insatisfeitos e pressiona por alguma satisfação, ainda que deformada.


      4° Uma Introdutória Sobre A Sublimação (Segundo Argumento) - A Psicanálise nos diz agora, ademais, que uma outra parte, particular e altamente prezada, do trabalho mental criativo serve para a realização de desejos - para a satisfação substitutiva dos desejos reprimidos que, desde os dias da infância, vivem insatisfeitos no espírito de cada um de nós. Entre essas criações, cuja vinculação com um Inconsciente Incompreensível sempre foi suspeitada, estão os mitos e as obras da literatura imaginativa e da arte, e as pesquisas da Psicanálise realmente arrojaram luz em abundância sobre os campos da mitologia, da ciência, da literatura e da psicologia dos artistas. Demonstramos que os mitos e os contos de fadas podem ser interpretados como Sonhos, traçamos os caminhos sinuosos que levam da premência do desejo inconsciente à sua realização em uma obra de arte sobre o observador e no caso do próprio artista tornamos claro seu parentesco emocional com o neurótico bem como sua distinção deste, e apontamos a vinculação existente entre sua disposição inata, suas experiências fortuitas e suas realizações.




      5° O Escândalo Do Complexo De Édipo (Terceiro Argumento) - E então, como terceiro argumento, a Psicanálise nos demonstrou, para nosso crescente assombro, o papel enormemente importante desempenhado pelo que é conhecido por 'Complexo de Édipo' - isto é, a relação emocional de uma criança humana com seus dois pais - na vida mental dos seres humanos. Nosso assombro se reduz quando compreendemos ser o Complexo de Édipo o correlativo psíquico de dois fatos biológicos fundamentais:

  • 1° - O grande período de dependência da criança humana;
  • 2° - E a maneira notável pela qual sua vida sexual atinge um primeiro clímax do terceiro ao quinto ano de vida, e depois, passado um período de inibição, reinicia-se na puberdade.
      E aqui se faz a descoberta de que uma terceira parte extremamente séria da atividade intelectual humana, a parte criadora das grandes instituições da religião, do direito, da ética e de todas as formas de vida cívica, tem como seu objetivo fundamental capacitar o indivíduo a dominar seu Complexo de Édipo e desviar-lhe a Libido de suas ligações infantis para as ligações sociais que são enfim desejadas. 




     6° A 'Psicologia' Do ID - Não se deve esquecer, contudo, que a Psicanálise sozinha não pode oferecer um quadro completo do mundo. Se aceitarmos a distinção que recentemente propus, de dividir o Aparelho Psíquico em um Ego, voltado para o mundo externo e aparelhado com a Consciência, e em um ID Inconsciente, dominado por suas necessidades instintuais, então a Psicanálise deve ser descrita como uma Psicologia do ID (e seus efeitos sobre o Ego). Em cada campo do conhecimento, portanto, ela só pode fazer contribuições, que requerem ser completadas a partir da Psicologia do Ego. Se essas contribuições amiúde contém a essência dos fatos, isso apenas corresponde ao importante papel que, pode-se reivindicar, é desempenhado em nossas vidas pelo inconsciente mental que por tanto tempo permaneceu desconhecido.

Análise De Uma Mente - Sigmund Freud

      Para os que se interessarem, aqui está um pequeno, porém, muito rico documentário sobre a vida de Sigmund Freud. No mesmo, há um singelo resumo sobre a vida, algumas obras, crenças e curiosidades sobre Freud.





Uma Breve Descrição Da Psicanálise

                                                              Resumo Do Capítulo IV


      1° A Fundação Da Primeira Clinica Psicoanalítica - No decurso desse desenvolvimento a técnica da Psicanálise se tornou tão definida e delicada quanto a de qualquer outro ramo especializado da medicina. Uma falha na compreensão desse fato levou a muitos abusos (particularmente na Inglaterra e nos Estados Unidos), porquanto pessoas que adquiriram apenas um conhecimento literário da Psicanálise a partir de leituras se consideram capazes de empreender tratamentos analíticos sem ter recebido qualquer informação especial. As consequências de tal comportamento são prejudiciais tanto para a ciência quanto para os pacientes e acarretam muito descrédito para a Análise. A fundação de uma primeira Clínica Psicanalítica para pacientes externos (por Max Eitingon, em Berlim, em 1920) tornou-se, portanto, um passo de grande importância prática. Esse instituto busca, por um lado, tornar o tratamento analítico acessível a amplos círculos da população e, por outro, empreende a instrução de médicos para serem Analistas Clínicos através de um curso de formação incluindo como condição que aquele que aprende concorde em ser ele próprio analisado.


      2° Surgem As Neuroses, A Libido E Os Distúrbios - Entre os conceitos hipotéticos que capacitem o médico a lidar com o Material Analítico, o primeiro a ser mencionado é o da 'Libido'.

  • Libido - Em Psicanálise, significa em primeira instância a Força (imaginada como quantitativamente variável e mensurável) dos Instintos Sexuais dirigidos para um objeto - 'sexuais' no sentido ampliado exigido pela teoria analítica. Um estudo mais completo demonstrou que era necessário colocar ao lado dessa 'Libido Objetal' uma 'Libido Narcísica' ou 'Do Ego', dirigida para o próprio Ego do indivíduo, e a interação dessas duas forças nos capacitou a explicar grande número de processos normais e anormais na Vida Mental.


      Uma distinção grosseira logo se fez entre o que é conhecido por 'Neuroses De Transferência' e os 'Distúrbios Narcísicos':

  • Neuroses De Transferência (Histeria e Neurose Obsessiva) E Distúrbios Narcísicos - Constituem os objetos propriamente ditos do tratamento psicanalítico, ao passo que as outras, as Neuroses Narcísicas, embora possam deveras ser examinadas com o auxílio da análise, oferecem dificuldades fundamentais à influência terapêutica. 


      É verdade que a Teoria da Libido da Psicanálise não está absolutamente completa e sua relação com uma teoria geral dos Instintos não é clara, pois a Psicanálise é uma ciência jovem, ainda inacabada, e em estágio de rápido desenvolvimento. Porém aqui se deve enfaticamente apontar quão errônea é a acusação de Pansexualismo que com tanta frequência é dirigida contra a Psicanálise. Ela busca demonstrar que a teoria psicanalítica não conhece outras forças motivadoras mentais senão as Puramente Sexuais e, assim procedendo, explora preconceitos populares pelo emprego da palavra 'sexual' não em seu sentido analítico, mas no vulgar.

segunda-feira, 21 de julho de 2014

Uma Breve Descrição Da Psicanálise

                                                              Resumo Do Capítulo III


      1° Provas E Utilidades Iniciais Do Surgimento Da Psicanálise - Provas de ela ser útil para lançar luz sobre outras atividades que não a atividade mental patológica, logo se apresentaram, em vinculação com dois tipos de fenômenos: as Parapraxias muito frequentes que ocorrem na vida cotidiana - tais como esquecer coisas, lapsos de língua e colocação errada de objetos - e os Sonhos tidos por essas pessoas sadias e psiquicamente normais. Pequenas falhas de funcionamento, tais como o esquecimento temporário de nomes próprios normalmente familiares, lapsos de língua e de escrita, e assim por diante, até então não tinham sido considerados dignos de qualquer explicação, ou se imaginava que fossem explicáveis por estados de fadiga, pela distração da atenção etc. O presente autor demonstrou então, a partir de muitos exemplos, em seu livro The Psychopathology Of Everyday Life (1901b), que acontecimentos desse tipo tem um Significado ou surgem devido a uma intenção Consciente com a qual interfere uma outra, suprimida ou realmente Inconsciente. Via de regra, uma rápida reflexão ou breve análise é suficiente para revelar a influência interferente. Devido à frequência de parapraxias tais como os lapsos de língua, tornou-se fácil a qualquer pessoa convencer-se, por sua própria experiência, sendo, não obstante, operantes, e que, pelo menos, encontram expressão como inibições e modificações de outros atos pretendidos.




      2° O Introdutório Da Interpretação Dos Sonhos - A análise dos Sonhos levou mais longe: ela foi trazida a público pelo presente autor já em 1900, em A Interpretação De Sonhos, que demonstrava serem os sonhos construídos exatamente da mesma maneira que os sintomas neuróticos. Como esses últimos, eles podem parecer estranhos e sem sentido; porém, se os examinarmos através de uma técnica que pouco difere da Associação Livre utilizada na Psicanálise, somos levados de seu Conteúdo Manifesto a um Significado Secreto, aos Pensamentos Oníricos Latentes. Esse Significado Latente é sempre um Impulso Desejoso, o qual se representa como Realizado no momento do Sonho. Entretanto, exceto em crianças pequenas e sob a pressão de necessidades físicas imperativas, esse desejo secreto jamais pode ser expresso de modo identificável. Ele primeiro tem de se submeter a uma Deformação, que é o trabalho de Forças Censurantes, Restritivas, tal como é relembrado na vida desperta. Ele é Deformado, a ponto de ser irreconhecível, por concessões feitas à Censura do Sonho, porém pode ser, através da análise, mais uma vez revelado como expressão de uma situação de Satisfação ou como a Realização de um Desejo.




      3° O Que É Sonho Para A Psicanálise? - A fórmula que, no fundo, melhor atende à essência do Sonho é esta: o Sonho é uma Realização (disfarçada) de um Desejo (reprimido). O estudo do processo que transforma o Desejo Latente Realizado No Sonho no Conteúdo Manifesto Do Sonho - processo conhecido como 'Trabalho Do Sonho' - ensinou-nos a maior parte do que sabemos sobre a vida mental inconsciente. Ora, o Sonho não constitui um Sintoma Mórbido, mas é o produto de uma mente normal. Os Desejos que ele representa como Realizados são os mesmos que aqueles reprimidos nas neuroses. Os Sonhos devem a possibilidade de sua gênese simplesmente à circunstância favorável de a Repressão, durante o estado de sono que paralisa o poder do movimento do homem, ser mitigada na Censura Do Sonho. Assim, prova-se que as mesmas forças e os mesmos processos que se realizam entre elas operam tanto na vida mental oral quanto na patológica. A partir da data de A Interpretação De Sonhos, a Psicanálise teve uma dupla significação. Constitui não apenas um novo método para tratar as neuroses, mas também uma nova Psicologia; reivindicou a atenção não só dos especialistas em nervos como também a de todos que eram estudiosos de uma ciência mental.




      4° O Ataque À Psicanálise - A recepção que lhe foi dada no mundo científico, porém, não foi amistosa. Por cerca de 10 anos ninguém prestou atenção aos trabalhos de Freud. Por volta do ano de 1907, um grupo de psiquiatras suíços (Bleuler e Jung, em Zurique) atraiu a atenção para a Psicanálise, e uma tormenta de indignação, não precisamente fastidiosa em seus métodos e argumentos, irrompeu logo após, principalmente na Alemanha. Nesse aspecto, a Psicanálise partilhava da sorte de muitas novidades que, após certo lapso de tempo, encontraram reconhecimento geral. Entretanto, era de sua natureza que  inevitavelmente despertasse uma oposição especificamente violenta. Ela feria os preconceitos da humanidade civilizada em alguns pontos especialmente sensíveis. Submetia todo indivíduo, por assim dizer, à Reação Analítica, por revelar aquilo que por acordo universal fora reprimido para o Inconsciente, e, desse modo, forçava seus contemporâneos a comportar-se como pacientes que, sob tratamento analítico, acima de tudo trazem suas próprias Resistências para o primeiro plano. Deve-se também admitir que não era fácil convencer-se da correção das teorias psicanalíticas, ou conseguir instrução na prática da Análise.




      5° Freud E Seus Discípulos - Uma diferença essencial entre essa segunda década da Psicanálise e a primeira reside no fato de que o presente autor (Freud) não constituía mais seu único representante. Um círculo sempre crescente de alunos e adeptos se havia reunido em torno dele, dedicando-se, em primeiro lugar, à difusão das teorias da Psicanálise; depois, ampliaram, suplementaram e conduziram essas teorias a maior profundidade. Com o decorrer dos anos diversos desses defensores, como era inevitável, separaram-se, tomaram seus próprios rumos, ou se transformaram em uma oposição que pareceu ameaçar a continuidade do desenvolvimento da Psicanálise. Entre 1911 e 1913, C. G. Jung, em Zurique, e Alfred Adler, em Viena, produziram determinada agitação por suas tentativas de dar novas interpretações aos fatos da Análise e por seus esforços para um desvio do ponto de vista analítico. Entretanto, viu-se logo que essas secessões não haviam causado danos permanentes. O sucesso temporário que tenham atingido foi facilmente explicável pela presteza da massa das pessoas em livrar-se da pressão das exigências da Psicanálise por qualquer caminho que se lhes pudesse abrir. A grande maioria dos colaboradores permaneceu firme e continuou seu trabalho orientada pelas linhas a eles indicadas.



quinta-feira, 26 de junho de 2014

Uma Breve Descrição Da Psicanálise

                                                           Resumo Do Capítulo II


      1° A Transformação Do Método Catártico Em Psicanálise - Logo após a publicação de Estudos Sobre A Histeria, a associação entre Breuer e Freud terminou. Breuer, que na realidade era consultor em medicina interna, abandonou o tratamento de pacientes nervosos e Freud dedicou-se ao aperfeiçoamento ulterior do instrumento que lhe deixara seu colaborador mais idoso. As novidades técnicas que introduziu e as descobertas que efetuou transformaram o método catártico em Psicanálise


      2° Porque Freud Abandonou A Hipnose? - O passo mais momentoso foi sem dúvida sua determinação de passar sem assistência da hipnose em seu procedimento técnico. Procedeu assim por duas razões: em primeiro lugar porque, apesar de um curso de instrução com Bernheim em Nancy, ele não conseguia induzir a hipnose em um número suficiente de casos, e, em segundo, porque estava insatisfeito com os resultados terapêuticos da catarse baseada na hipnose. É verdade que esses resultados eram notáveis e apareciam após um tratamento de curta duração, porém demonstravam não serem permanentes e dependerem demais das relações pessoais do paciente com o médico. O abandono da hipnose causou uma brecha no curso do desenvolvimento do procedimento até então e significou um novo começo.


      3° O Surgimento Da Associação Livre - A hipnose, contudo, desempenhara o serviço de restituir à lembrança do paciente aquilo que ele havia esquecido. Era necessário encontrar alguma outra técnica para substituí-la e a Freud ocorreu a ideia de colocar em seu lugar o método da 'Associação Livre'. Isso equivale a dizer que ele fazia seus pacientes assumirem o compromisso de se absterem de qualquer reflexão consciente e se abandonarem em um estado de tranquila concentração, para seguir as ideias que espontaneamente (involuntariamente) lhe ocorressem - 'a escumarem a superfície de suas consciências'. Deveriam comunicar essas ideias ao médico, mesmo que sentissem objeções em fazê-lo.



      4° A Investigação Do Material Inconsciente Através Da Associação Livre - A escolha da Associação Livre como meio de investigar o material inconsciente esquecido parece tão estranha que uma palavra em justificação dela não estará fora de lugar. Freud foi levado a ela pela expectativa de que a chamada Associação 'Livre' mostrasse de fato não ser livre, porquanto após suprimidos todos os propósitos intelectuais conscientes, as ideias que emergissem pareceriam ser determinadas pelo material inconsciente. Essa expectativa foi justificada pela experiência. Quando a 'regra fundamental da Psicanálise', que acaba de ser enunciada, era obedecida, o curso da Associação Livre produzia um estoque abundante de ideais que podiam nos colocar na pista daquilo que o paciente havia esquecido. Com efeito, esse material não trazia à tona o que realmente fora esquecido, mas trazia tão claras e numerosas alusões a ele que, com o auxílio de certa suplementação e interpretação, o médico podia adivinhar (ou reconstruir) o material esquecido a partir dele. Assim, a Associação Livre, juntamente com a arte da interpretação, desempenhava a mesma função que anteriormente fora realizada pelo hipnotismo.


      5° Nasce A Teoria Da Repressão - Parecia como se o nosso trabalho houvesse ficado mais difícil e complicado; no entanto, o lucro inestimável estava em que se obtinha agora uma compreensão interna (insight) de uma ação recíproca de forças que haviam estado ocultas do observador pelo estado hipnótico. Tornou-se evidente que o trabalho de revelar o que havia sido patogenicamente esquecido tinha de lutar contra uma resistência constante e muito intensa. As próprias objeções críticas que o paciente levantava a fim de evitar comunicar as ideias que lhe ocorriam, e contra as quais a regra fundamental da Psicanálise era dirigida, já eram manifestações dessa Resistência. Uma consideração dos fenômenos da Resistência conduziu-nos a uma das pedras angulares da teoria psicanalítica das neuroses - a teoria da Repressão. Era plausível supor que as mesmas forças, agora então em luta com o material patogênico a ser tornado consciente, haviam realizado em época anterior, com sucesso, os mesmos esforços. Preenchia-se, assim, uma lacuna na etiologia dos sintomas neuróticos. As impressões e impulsos mentais, para os quais os sintomas estavam agora servindo de substitutos, não tinham sido esquecidos sem razão ou por causa de uma incapacidade constitucional para a síntese (como Janet supunha); através da influência de outras forças mentais tinham-se defrontado com uma Repressão cujo sucesso e prova eram precisamente estarem eles barrados à consciência e excluídos da memória. Apenas em consequência dessa Repressão é que eles se haviam tornado patogênicos, isto é, haviam tido êxito em manifestar-se ao longo de caminhos fora do comum, tais como os sintomas.




      6° A Procedência Da Repressão - Um conflito entre dois grupos de tendências mentais deve ser encarado como o fundamento para a Repressão, e, por conseguinte, como a causa de toda enfermidade neurótica. E aqui a experiência nos ensinou um fato novo e surpreendente sobre a natureza das forças que estiveram lutando uma contra a outra. A Repressão invariavelmente procedia da Personalidade consciente da pessoa enferma (seu Ego) e baseava-se em motivos estéticos e éticos; os impulsos sujeitos à Repressão eram os do egoísmo e da crueldade, que em geral podem ser resumidos como o mal, porém, acima de tudo, impulsos desejos sexuais, frequentemente da espécie mais grosseira e proibida. Assim, os sintomas constituíam um substituto para as satisfações proibidas e a moléstia parecia corresponder a uma subjugação incompleta do lado imoral dos seres humanos.


      7° Nasce A Teoria Da Sexualidade Infantil - O progresso em conhecimento tornou ainda mais claro o enorme papel desempenhado na vida mental pelos impulsos desejosos sexuais, e levou a um estudo pormenorizado da natureza e desenvolvimento do Instinto Sexual. Também deparamos, porém, com outro achado puramente empírico, na descoberta de que as experiências e conflitos dos primeiros anos da infância representam uma parte insuspeitadamente importante no desenvolvimento do indivíduo e deixam atrás de si disposições indeléveis que se abatem sobre o período da maturidade. Isso nos trouxe à revelação de algo que até então fora fundamentalmente negligenciado pela ciência - a Sexualidade Infantil, que, da mais tenra idade em diante, se manifesta tanto em reações físicas quanto em atitudes mentais. A fim de reunir essa sexualidade das crianças com o que é descrito como sendo a sexualidade normal dos adultos e a vida sexual anormal dos pervertidos, o conceito do que era sexual devia, ele próprio, ser corrigido e ampliado de uma forma que pudesse ser justificada pela evolução do Instinto Sexual.




      8° Enfim, A Teoria Psicanalítica Das Neuroses - Após a Hipnose ter sido substituída pela técnica de Associação Livre, o Procedimento Catártico de Breuer transformou-se em Psicanálise, que por mais de uma década foi desenvolvida pelo autor (Freud), sozinho. Durante esse tempo ela gradativamente adquiriu uma teoria que parecia fornecer uma descrição satisfatória da origem, significado e propósito dos sintomas neuróticos, e proporcionava uma base racional para tentativas médicas de curar a queixa. Mais uma vez enumerei os fatores que contribuem para a constituição dessa teoria. São eles: ênfase na Vida Instintual (Afetividade), na Dinâmica Mental, no fato de que mesmo os fenômenos mentais aparentemente mais obscuros e arbitrários possuem invariavelmente um Significado e uma Causa, a teoria do Conflito Psíquico e da Natureza Patogênica da Repressão, a visão de que os sintomas constituem Satisfações Substitutas, o reconhecimento da importância etiológica da vida sexual, e especificamente, dos primórdios da Sexualidade Infantil. De um ponto de vista filosófico, essa teoria estava fadada a adotar a opinião de que o mental não coincide com o Consciente, que os processos mentais são, em si próprios, Inconscientes e só se tornam Conscientes pelo funcionamento de órgãos especiais (Instâncias ou Sintomas). Para completar essa lista acrescentarei que entre as atitudes afetivas da infância a complicada relação emocional das crianças com os pais - o que é conhecido por Complexo de Édipo - surgiu em proeminência. Ficou cada vez mais claro que ele era o núcleo de todo caso de neurose, e no comportamento do paciente para com seu analista surgiram certos fenômenos de sua Transferência Emocional que vieram a ser de grande importância para a teoria e a técnica, do mesmo modo.