quinta-feira, 31 de julho de 2014

Algumas Lições Elementares De Psicanálise



                                             Algumas Lições Elementares Da Psicanálise

                                                                     (1940 [1938])

                                                                Nota Do Editor Inglês

                                SOME ELEMENTARY LESSONS IN PSYCHO-ANALYSIS

                     
                                               (a) EDIÇÕES ALEMÃS:

                                                1940 Int. Z. Psychoanal., Imago, 25(1), 21-2. (Em parte.)
                                                1941 G. W. 17, 141-7. (Completo.)


                                                (b) TRADUÇÃO INGLESA:

                                                1940 Int. J. Psycho-Anal., 21 (1), 83-4. (Em parte.) (Trad. de James                                                           Strachey.)
                                                1950 C. P., 5, 376-82. (Completo. Mesmo tradutor.)


                               Resumo Do Capítulo: Algumas Lições Elementares De Psicanálise

             
      1° Psicanálise: Apreciada Ou Não...? - A Psicanálise tem poucas perspectivas de se tornar apreciada ou popular. Não se trata simplesmente do fato de que muito do que ela tem a dizer ofende os sentimentos das pessoas. Uma dificuldade quase igual é criada pelo fato de nossa ciência envolver certo número de hipóteses - é difícil dizer se elas devem ser encaradas como postulados ou como produtos de nossas pesquisas - que estão sujeitas a parecerem muito estranhas às modalidades comuns de pensamento e que contradizem fundamentalmente opiniões correntes. Mas não há saída para isso.  




                            

segunda-feira, 28 de julho de 2014

Uma Breve Descrição Da Psicanálise

                                                         Resumo Do Capítulo V


      1° Nota Sobre Sonhos - Os Sonhos  foram interpretados com sucesso pela técnica analítica - os Sonhos, que são parte da vida mental de pessoas normais e que, no entanto, podem com efeito ser encarados como produtos patológicos capazes de ocorrer regularmente em estados sadios.




      2° Neuroses X Religiões - Tomando um exemplo de outro campo, é impossível fugir à impressão da correspondência perfeita que pode ser descoberta entre as ações obsessivas de certos pacientes obsessivos e as observâncias religiosas dos crentes em todo o mundo. Certos casos de Neurose Obsessiva na realidade se comportam como uma caricatura de uma religião particular, de modo que é tentador assemelhar as religiões oficiais a uma neurose obsessiva, que foi mitigada por se tornar universalizada. Essa comparação, que sem dúvida é altamente objetável a todos os crentes, não obstante se mostrou psicologicamente muito frutífera, pois a Psicanálise logo descobriu no caso da neurose obsessiva, quais são as forças que nela combatem entre si até seus conflitos encontrarem expressão notável no cerimonial das ações obsessivas. Nada de semelhante era suspeitado no caso do cerimonial religioso até que, remontando o sentimento religioso à relação com o pai como sua raiz mais profunda, tornou-se possível apontar para uma situação dinâmica análoga também nesse caso.




      3° Primeiro Argumento - Caso possamos presumir que os aspectos mais gerais da vida mental inconsciente (conflitos entre Impulsos Instituais, Repressões e Satisfações Substitutas) estejam presentes em toda parte, e se há uma Psicologia Profunda que conduz a um conhecimento desses aspectos, podemos então razoavelmente esperar que a aplicação da Psicanálise às mais variáveis esferas da atividade mental humana em toda parte trará à luz resultados importantes e até então inatingíveis.
           Se deixarmos fora de cogitação impulsos internos pouco conhecidos, podemos dizer que a principal força motivadora no sentido do desenvolvimento cultural do homem  foi a Exigência Externa Real, que retirou dele a Satisfação Fácil de suas necessidades naturais e o expôs a perigos imensos. Essa Frustração Externa o impeliu a uma luta com a realidade, a qual findou parcialmente em uma adaptação a ela e, em parte, no controle sobre ela; contudo também o impeliu a trabalhar e viver em comum com os de sua espécie, e isso já envolvia uma renúncia de certo número de Impulsos Instintuais impossíveis de ser socialmente satisfeitos. Com os avanços ulteriores da civilização cresceram também as exigências da Repressão. A civilização, afinal de contas, está construída inteiramente sobre a renúncia ao Instinto, e todo indivíduo, em sua jornada da infância à maturidade, precisa, em sua própria pessoa, recapitular esse desenvolvimento da humanidade a um estado de criteriosa resignação. A Psicanálise demonstrou que foram predominantemente, embora não exclusivamente, os Impulsos Instintuais que sucumbiram a essa supressão cultural. Parte deles, contudo, apresenta a característica valiosa de se permitirem ser desviados de seus objetivos imediatos e colocar assim sua energia à disposição do desenvolvimento cultural, sob a forma de Tendências 'Sublimadas'. Outra parte, porém, persiste no Inconsciente como Desejos Insatisfeitos e pressiona por alguma satisfação, ainda que deformada.


      4° Uma Introdutória Sobre A Sublimação (Segundo Argumento) - A Psicanálise nos diz agora, ademais, que uma outra parte, particular e altamente prezada, do trabalho mental criativo serve para a realização de desejos - para a satisfação substitutiva dos desejos reprimidos que, desde os dias da infância, vivem insatisfeitos no espírito de cada um de nós. Entre essas criações, cuja vinculação com um Inconsciente Incompreensível sempre foi suspeitada, estão os mitos e as obras da literatura imaginativa e da arte, e as pesquisas da Psicanálise realmente arrojaram luz em abundância sobre os campos da mitologia, da ciência, da literatura e da psicologia dos artistas. Demonstramos que os mitos e os contos de fadas podem ser interpretados como Sonhos, traçamos os caminhos sinuosos que levam da premência do desejo inconsciente à sua realização em uma obra de arte sobre o observador e no caso do próprio artista tornamos claro seu parentesco emocional com o neurótico bem como sua distinção deste, e apontamos a vinculação existente entre sua disposição inata, suas experiências fortuitas e suas realizações.




      5° O Escândalo Do Complexo De Édipo (Terceiro Argumento) - E então, como terceiro argumento, a Psicanálise nos demonstrou, para nosso crescente assombro, o papel enormemente importante desempenhado pelo que é conhecido por 'Complexo de Édipo' - isto é, a relação emocional de uma criança humana com seus dois pais - na vida mental dos seres humanos. Nosso assombro se reduz quando compreendemos ser o Complexo de Édipo o correlativo psíquico de dois fatos biológicos fundamentais:

  • 1° - O grande período de dependência da criança humana;
  • 2° - E a maneira notável pela qual sua vida sexual atinge um primeiro clímax do terceiro ao quinto ano de vida, e depois, passado um período de inibição, reinicia-se na puberdade.
      E aqui se faz a descoberta de que uma terceira parte extremamente séria da atividade intelectual humana, a parte criadora das grandes instituições da religião, do direito, da ética e de todas as formas de vida cívica, tem como seu objetivo fundamental capacitar o indivíduo a dominar seu Complexo de Édipo e desviar-lhe a Libido de suas ligações infantis para as ligações sociais que são enfim desejadas. 




     6° A 'Psicologia' Do ID - Não se deve esquecer, contudo, que a Psicanálise sozinha não pode oferecer um quadro completo do mundo. Se aceitarmos a distinção que recentemente propus, de dividir o Aparelho Psíquico em um Ego, voltado para o mundo externo e aparelhado com a Consciência, e em um ID Inconsciente, dominado por suas necessidades instintuais, então a Psicanálise deve ser descrita como uma Psicologia do ID (e seus efeitos sobre o Ego). Em cada campo do conhecimento, portanto, ela só pode fazer contribuições, que requerem ser completadas a partir da Psicologia do Ego. Se essas contribuições amiúde contém a essência dos fatos, isso apenas corresponde ao importante papel que, pode-se reivindicar, é desempenhado em nossas vidas pelo inconsciente mental que por tanto tempo permaneceu desconhecido.

Análise De Uma Mente - Sigmund Freud

      Para os que se interessarem, aqui está um pequeno, porém, muito rico documentário sobre a vida de Sigmund Freud. No mesmo, há um singelo resumo sobre a vida, algumas obras, crenças e curiosidades sobre Freud.





Uma Breve Descrição Da Psicanálise

                                                              Resumo Do Capítulo IV


      1° A Fundação Da Primeira Clinica Psicoanalítica - No decurso desse desenvolvimento a técnica da Psicanálise se tornou tão definida e delicada quanto a de qualquer outro ramo especializado da medicina. Uma falha na compreensão desse fato levou a muitos abusos (particularmente na Inglaterra e nos Estados Unidos), porquanto pessoas que adquiriram apenas um conhecimento literário da Psicanálise a partir de leituras se consideram capazes de empreender tratamentos analíticos sem ter recebido qualquer informação especial. As consequências de tal comportamento são prejudiciais tanto para a ciência quanto para os pacientes e acarretam muito descrédito para a Análise. A fundação de uma primeira Clínica Psicanalítica para pacientes externos (por Max Eitingon, em Berlim, em 1920) tornou-se, portanto, um passo de grande importância prática. Esse instituto busca, por um lado, tornar o tratamento analítico acessível a amplos círculos da população e, por outro, empreende a instrução de médicos para serem Analistas Clínicos através de um curso de formação incluindo como condição que aquele que aprende concorde em ser ele próprio analisado.


      2° Surgem As Neuroses, A Libido E Os Distúrbios - Entre os conceitos hipotéticos que capacitem o médico a lidar com o Material Analítico, o primeiro a ser mencionado é o da 'Libido'.

  • Libido - Em Psicanálise, significa em primeira instância a Força (imaginada como quantitativamente variável e mensurável) dos Instintos Sexuais dirigidos para um objeto - 'sexuais' no sentido ampliado exigido pela teoria analítica. Um estudo mais completo demonstrou que era necessário colocar ao lado dessa 'Libido Objetal' uma 'Libido Narcísica' ou 'Do Ego', dirigida para o próprio Ego do indivíduo, e a interação dessas duas forças nos capacitou a explicar grande número de processos normais e anormais na Vida Mental.


      Uma distinção grosseira logo se fez entre o que é conhecido por 'Neuroses De Transferência' e os 'Distúrbios Narcísicos':

  • Neuroses De Transferência (Histeria e Neurose Obsessiva) E Distúrbios Narcísicos - Constituem os objetos propriamente ditos do tratamento psicanalítico, ao passo que as outras, as Neuroses Narcísicas, embora possam deveras ser examinadas com o auxílio da análise, oferecem dificuldades fundamentais à influência terapêutica. 


      É verdade que a Teoria da Libido da Psicanálise não está absolutamente completa e sua relação com uma teoria geral dos Instintos não é clara, pois a Psicanálise é uma ciência jovem, ainda inacabada, e em estágio de rápido desenvolvimento. Porém aqui se deve enfaticamente apontar quão errônea é a acusação de Pansexualismo que com tanta frequência é dirigida contra a Psicanálise. Ela busca demonstrar que a teoria psicanalítica não conhece outras forças motivadoras mentais senão as Puramente Sexuais e, assim procedendo, explora preconceitos populares pelo emprego da palavra 'sexual' não em seu sentido analítico, mas no vulgar.

segunda-feira, 21 de julho de 2014

Uma Breve Descrição Da Psicanálise

                                                              Resumo Do Capítulo III


      1° Provas E Utilidades Iniciais Do Surgimento Da Psicanálise - Provas de ela ser útil para lançar luz sobre outras atividades que não a atividade mental patológica, logo se apresentaram, em vinculação com dois tipos de fenômenos: as Parapraxias muito frequentes que ocorrem na vida cotidiana - tais como esquecer coisas, lapsos de língua e colocação errada de objetos - e os Sonhos tidos por essas pessoas sadias e psiquicamente normais. Pequenas falhas de funcionamento, tais como o esquecimento temporário de nomes próprios normalmente familiares, lapsos de língua e de escrita, e assim por diante, até então não tinham sido considerados dignos de qualquer explicação, ou se imaginava que fossem explicáveis por estados de fadiga, pela distração da atenção etc. O presente autor demonstrou então, a partir de muitos exemplos, em seu livro The Psychopathology Of Everyday Life (1901b), que acontecimentos desse tipo tem um Significado ou surgem devido a uma intenção Consciente com a qual interfere uma outra, suprimida ou realmente Inconsciente. Via de regra, uma rápida reflexão ou breve análise é suficiente para revelar a influência interferente. Devido à frequência de parapraxias tais como os lapsos de língua, tornou-se fácil a qualquer pessoa convencer-se, por sua própria experiência, sendo, não obstante, operantes, e que, pelo menos, encontram expressão como inibições e modificações de outros atos pretendidos.




      2° O Introdutório Da Interpretação Dos Sonhos - A análise dos Sonhos levou mais longe: ela foi trazida a público pelo presente autor já em 1900, em A Interpretação De Sonhos, que demonstrava serem os sonhos construídos exatamente da mesma maneira que os sintomas neuróticos. Como esses últimos, eles podem parecer estranhos e sem sentido; porém, se os examinarmos através de uma técnica que pouco difere da Associação Livre utilizada na Psicanálise, somos levados de seu Conteúdo Manifesto a um Significado Secreto, aos Pensamentos Oníricos Latentes. Esse Significado Latente é sempre um Impulso Desejoso, o qual se representa como Realizado no momento do Sonho. Entretanto, exceto em crianças pequenas e sob a pressão de necessidades físicas imperativas, esse desejo secreto jamais pode ser expresso de modo identificável. Ele primeiro tem de se submeter a uma Deformação, que é o trabalho de Forças Censurantes, Restritivas, tal como é relembrado na vida desperta. Ele é Deformado, a ponto de ser irreconhecível, por concessões feitas à Censura do Sonho, porém pode ser, através da análise, mais uma vez revelado como expressão de uma situação de Satisfação ou como a Realização de um Desejo.




      3° O Que É Sonho Para A Psicanálise? - A fórmula que, no fundo, melhor atende à essência do Sonho é esta: o Sonho é uma Realização (disfarçada) de um Desejo (reprimido). O estudo do processo que transforma o Desejo Latente Realizado No Sonho no Conteúdo Manifesto Do Sonho - processo conhecido como 'Trabalho Do Sonho' - ensinou-nos a maior parte do que sabemos sobre a vida mental inconsciente. Ora, o Sonho não constitui um Sintoma Mórbido, mas é o produto de uma mente normal. Os Desejos que ele representa como Realizados são os mesmos que aqueles reprimidos nas neuroses. Os Sonhos devem a possibilidade de sua gênese simplesmente à circunstância favorável de a Repressão, durante o estado de sono que paralisa o poder do movimento do homem, ser mitigada na Censura Do Sonho. Assim, prova-se que as mesmas forças e os mesmos processos que se realizam entre elas operam tanto na vida mental oral quanto na patológica. A partir da data de A Interpretação De Sonhos, a Psicanálise teve uma dupla significação. Constitui não apenas um novo método para tratar as neuroses, mas também uma nova Psicologia; reivindicou a atenção não só dos especialistas em nervos como também a de todos que eram estudiosos de uma ciência mental.




      4° O Ataque À Psicanálise - A recepção que lhe foi dada no mundo científico, porém, não foi amistosa. Por cerca de 10 anos ninguém prestou atenção aos trabalhos de Freud. Por volta do ano de 1907, um grupo de psiquiatras suíços (Bleuler e Jung, em Zurique) atraiu a atenção para a Psicanálise, e uma tormenta de indignação, não precisamente fastidiosa em seus métodos e argumentos, irrompeu logo após, principalmente na Alemanha. Nesse aspecto, a Psicanálise partilhava da sorte de muitas novidades que, após certo lapso de tempo, encontraram reconhecimento geral. Entretanto, era de sua natureza que  inevitavelmente despertasse uma oposição especificamente violenta. Ela feria os preconceitos da humanidade civilizada em alguns pontos especialmente sensíveis. Submetia todo indivíduo, por assim dizer, à Reação Analítica, por revelar aquilo que por acordo universal fora reprimido para o Inconsciente, e, desse modo, forçava seus contemporâneos a comportar-se como pacientes que, sob tratamento analítico, acima de tudo trazem suas próprias Resistências para o primeiro plano. Deve-se também admitir que não era fácil convencer-se da correção das teorias psicanalíticas, ou conseguir instrução na prática da Análise.




      5° Freud E Seus Discípulos - Uma diferença essencial entre essa segunda década da Psicanálise e a primeira reside no fato de que o presente autor (Freud) não constituía mais seu único representante. Um círculo sempre crescente de alunos e adeptos se havia reunido em torno dele, dedicando-se, em primeiro lugar, à difusão das teorias da Psicanálise; depois, ampliaram, suplementaram e conduziram essas teorias a maior profundidade. Com o decorrer dos anos diversos desses defensores, como era inevitável, separaram-se, tomaram seus próprios rumos, ou se transformaram em uma oposição que pareceu ameaçar a continuidade do desenvolvimento da Psicanálise. Entre 1911 e 1913, C. G. Jung, em Zurique, e Alfred Adler, em Viena, produziram determinada agitação por suas tentativas de dar novas interpretações aos fatos da Análise e por seus esforços para um desvio do ponto de vista analítico. Entretanto, viu-se logo que essas secessões não haviam causado danos permanentes. O sucesso temporário que tenham atingido foi facilmente explicável pela presteza da massa das pessoas em livrar-se da pressão das exigências da Psicanálise por qualquer caminho que se lhes pudesse abrir. A grande maioria dos colaboradores permaneceu firme e continuou seu trabalho orientada pelas linhas a eles indicadas.