sexta-feira, 24 de abril de 2015

Por Que A Psicanálise?

                                            Resumo Do 4° Capítulo 

                                        O Homem Comportamental


      1° A Humanização Do Sofrimento Através Do Modelo Culturalista - Desvinculado dos outros grandes modelos da Psiquiatria Dinâmica, o Modelo Culturalista, na verdade, parece pôr em prática uma humanização do sofrimento, embora, na realidade, leve o paciente a acreditar que seu mal estar não provém dele ou de suas relações com os outros, mas de espíritos maléficos, dos astros, das pessoas que lhe deitam mau olhado ou, numa palavra, da "cultura" e da chamada pertença étnica. A explicação através do cultural, portanto, associa-se à casualidade orgânica e remete o sujeito ao universo da possessão.


      2° Como O DSM Foi Elaborado? - (...) estudar a evolução do famoso Manual Diagnóstico E Estatístico Dos Distúrbios Mentais (DSM), cuja primeira versão (DSM I) foi elaborada pela American Psychiatric Association (APA) em 1952.

      Nessa ocasião, o Manual levava em conta as conquistas da Psicanálise e da Psiquiatria Dinâmica. Defendia a ideia de que os distúrbios psíquicos e mentais decorriam essencialmente da história inconsciente do sujeito, de seu lugar na família e de sua relação com o meio social. (...) Por essa perspectiva, a noção de causalidade orgânica não era desprezada, e a Psicofarmacologia, então em plena extensão, era utilizada em associação com o tratamento pela fala ou com outras terapias dinâmicas.




      Depois de 1952, o Manual foi revisado pela APA em diversas ocasiões, sempre no sentido de um abandono radical da síntese efetuada pela Psiquiatria Dinâmica. Calcado no esquema sinal-diagnóstico-tratamento, ele acabou eliminando de suas classificações a própria subjetividade. Houve quatro revisões: em 1968 (DSM II), em 1980 (DSM III), em 1987 (DSM III-R) e em 1994 (DSM IV). O resultado dessa operação progressiva de limpeza, dita "ateórica", foi um desastre. Fundamentalmente, ela visou a demonstrar que o distúrbio da alma e do psiquismo devia ser reduzido ao equivalente à pane de um motor.




     3° Existe CURA Em Psicanálise? - Trata-se de uma nuance considerável, e que diz respeito à própria definição do status da cura em Psicanálise. Com efeito, como já recordei, no campo do psiquismo não existe cura no sentido como esta é constatada no campo das doenças somáticas, sejam elas genéticas ou orgânicas. Na medicina científica, a eficácia apoia-se no modelo sinais-diagnóstico-tratamento. Constatam-se os sintomas (febre), dá-se um nome à doença (febre tifóide) e se administra um tratamento (medicamento antibiótico). O doente então fica "curado" do mecanismo biológico da doença.



quinta-feira, 23 de abril de 2015

A Psicanálise Sob O Olhar De... Françoise Giroud

                                                        A Análise


      "A Análise é árdua e faz sofrer. Mas, quando se está desmoronando sob o peso das palavras recalcadas, das condutas obrigatórias, das aparências a serem salvas, quando a imagem que se tem de si mesmo torna-se insuportável, o remédio é esse. Pelo menos, eu o experimentei e guardo por Jacques Lacan uma gratidão infinita (...). Não mais sentir vergonha de si mesmo é a realização da liberdade (...). Isso é o que uma Psicanálise bem conduzida ensina aos que lhe pedem socorro."



Françoise Giroud

A Psicanálise Sob O Olhar De... Sigmund Freud

                                                   Sobre A Libido...


      ... A um outro psicólogo norte-americano que lhe propôs "medir" a Libido e dar seu nome (um freud) à unidade de medida, ele também respondeu:

      "Não entendo de física o suficiente para formalizar um juízo confiável nessa matéria. Mas, se o senhor me permite pedir-lhe um favor, não dê meu nome à sua unidade. Espero poder morrer, um dia, com uma Libido que não tenha sido medida."



quarta-feira, 22 de abril de 2015

Porque A Psicanálise?


                                             Resumo Do Capítulo 2

                                       Os Medicamentos Do Espírito


      1º O Que São E Para Que Servem Os Psicotrópicos? - A partir de 1950, as substâncias químicas - ou psicotrópicos - modificaram a paisagem da loucura. Esvaziaram os manicômios e substituíram a camisa de força e os tratamentos de choque pela redoma medicamentosa. Embora não curem nenhuma doença mental ou nervosa, elas revolucionaram as representações do Psiquismo, fabricando um "novo homem", polido e sem humor, esgotado pela evitação de suas paixões, envergonhado por não ser conforme ao ideal que lhe é proposto.



      Receitados tantos por clínicos gerais quanto pelos especialistas em Psicopatologia, os Psicotrópicos tem o efeito de normalizar comportamentos e eliminar os sintomas mais dolorosos do sofrimento psíquico, sem lhes buscar a significação.


      2º Psicotrópicos E Seus Grupos - Os Psicotrópicos são classificados em três grupos:


  1. Os Psicolépticos - neste grupo encontram-se os medicamentos hipnóticos, que tratam os distúrbios do sono, bem como os ansiolíticos e os tranquilizantes, que eliminam os sinais de angústia, ansiedade, fobia e de diversas outras neuroses e, por fim, os neurolépticos (ou antipsicóticos), que são medicamentos específicos para a Psicose e todas as formas de Delírios crônicos ou agudos.                                                                                                            
  2. Os Psicoanalépticos  - neste grupo reúnem-se os estimulantes e os antidepressivos.                                                                                                           
  3.  Os Psicodislépticos - neste grupo estão os medicamentos alucinógenos, os estupefacientes e os reguladores de humor.
 
                            


      3º A Camisa De Força Química - A princípio, a Psicofarmacologia deu ao homem uma recuperação da liberdade. Postos em circulação por dois psiquiatras franceses, Jean Delay e Pierre Deniker, os neurolépticos desenvolveram a fala ao louco. Permitiram sua reintegração na cidade. Graças a eles, os tratamentos bárbaros e ineficazes foram abandonados. Quantos aos ansiolíticos e aos antidepressivos, trouxeram aos neuróticos e aos deprimidos uma tranquilidade maior.
 
        


      No entanto, à força de acreditar no poder de suas poções, a Psicofarmacologia acabou perdendo parte de seu prestígio, a despeito de sua impressionante eficácia. Na verdade, ela encerrou o sujeito numa nova alienação ao pretender curá-lo da própria essência da condição humana. Por isso, através de suas ilusões, alimentou um novo irracionalismo. É que, quanto mais se promete o "fim" do sofrimento psíquico através da ingestão de pílulas, que nunca fazem mais do que suspender sintomas ou transformar uma personalidade, mais o sujeito, decepcionado, volta-se em seguida para tratamentos corporais ou mágicos.

      Não surpreende, portanto, que os excessos da Farmacologia tenham sido denunciados justamente por aqueles que a haviam enaltecido, e que hoje reivindicam que os remédios da mente sejam administrados de maneira mais racional e em coordenação com outras formas de tratamento: Psicoterapia e Psicanálise.

      ... o inventor desses medicamentos, Henri Laborir, sempre declarou que a Psicofarmacologia não era, como tal, a solução para todos os problemas:
"Por que ficamos contentes por dispor de Psicotrópicos? Porque a sociedade em que vivemos é insuportável. As pessoas não conseguem mais dormir, ficam angustiadas e necessitam ser tranquilizadas, mais nas megalópoles do que noutros lugares. Às vezes me censuram por haver inventado a Camisa De Força Química..."

      ... De fato, ela (a Psicofarmacologia) permite que todos os médicos - em especial os clínicos gerais - abordem da mesma maneira todo tipo de afecções, sem que jamais se saiba de que tratamento elas dependem. Assim, Psicoses, Neuroses, Fobias. Melancolias e Depressões são tratadas pela Psicofarmacologia como um punhado de estados ansiosos, decorrentes de lutos, crises de pânico passageiras, ou de um nervosismo extremo, devido a um ambiente fácil. 

      ... passada a Ideologia Medicamentosa ...

      4º A Banalização Da Psicanálise E O Destino Da Anna O. - A palavra "Psicanálise" fez sua aparição em 1896, num texto de Sigmund Freud redigido em francês.  Um ano antes, com seu amigo Josef Breuer, ele havia publicado seus famosos Estudos Sobre A Histeria, livro em que relatava o caso de uma moça judia vienense que sofria de uma estranha doença de origem psíquica, na qual eram postas em cena Fantasias Sexuais através de contorções do corpo. A paciente chamava-se Berta Pappenheim, e seu médico, Breuer, que vinha cuidando dela pelo chamado método "catártico", deu-lhe o nome de Anna O. A história dessa paciente viria a se tornar lendária, pois é Anna O., isto é, a uma mulher, e não a um cientista, que se atribui a invenção do método Psicanalítico: um tratamento baseado na fala, um tratamento em que o fato de se verbalizar o sofrimento, de encontrar palavras para expressá-lo, permite, se não curá-lo, ao menos tomar consciência de sua origem e, portanto, assumi-lo.

      Consultando os arquivos, os historiadores modernos demonstraram que o famoso caso de Anna O., apresentado por Freud e Breuer como protótipo da cura catártica, não levou, na realidade, à cura da paciente. Em todo caso, Freud e Breuer decidiram publicar a história dessa mulher e expô-la como um caso princeps, para melhor reivindicar, em oposição ao psicólogo francês Pierre Janet, a prioridade da descoberta do método catártico. Quanto a Berta Pappenheim, se não foi curada de seus sintomas, certamente se transformou numa outra mulher. Militante feminista, devota e rígida, consagrou sua vida aos órfãos e às vítimas do anti-semitismo, sem jamais evocar o tratamento psíquico que recebeu na juventude e que fez dela um mito.


      5° Psicanálise Presente E Não Presente - Quanto mais as instituições psicanalíticas implodem, mais a Psicanálise está presente nas diferentes esferas da sociedade e mais serve de referência histórica para a Psicologia Clínica que, no entanto, veio substituí-la. A língua da Psicanálise transformou-se num idioma comum, falado tanto pelas massas quanto pelas elites... Hoje em dia, ninguém mais desconhece o vocabulário Freudiano: fantasia, supereu, desejo, libido, sexualidade, etc...