segunda-feira, 20 de junho de 2016

Sobre Os Sonhos

                                                                Sobre Os Sonhos

                                                                  Uber den Trau

                                                                     Capítulo 4



      01° O Sonho E Sua Condensação - Estaremos inclinados a supor que algum tipo de Transformação tenha ocorrido mesmo nos Sonhos Confusos, embora não saibamos dizer se, também no caso deles, o que se transformou foi um (enunciado) optativo.

      Mas outra conquista do trabalho do Sonho, a qual tende a produzir Sonhos Incoerentes é ainda mais notável. Se, numa situação qualquer, compararmos o número de elementos de representação ou o espaço tornado para anotá-los, no caso do Sonho e no caso dos pensamentos oníricos a que a análise nos conduz, e dos quais se encontram vestígios no próprio Sonho, não nos restará nenhuma dúvida de que o trabalho do Sonho efetuou uma obra de Compreensão ou Condensação em larga escala. É impossível, a princípio, formar qualquer juízo sobre o grau dessa Condensação; no entanto, quanto mais fundo mergulhamos na análise do Sonho, mais impressionante ele se figura. De cada elemento do conteúdo do Sonho ramificam-se fios associativos em duas ou mais direções; cada situação do Sonho parece compor-se de duas ou mais direções; cada situação do Sonho parece compor-se de duas ou mais impressões ou experiências.

     


      2° A Interpretação Dos Sonhos - O próprio material dos pensamentos oníricos reunido para formar a situação do Sonho deve adaptar-se, é claro, para esse fim. Deve haver um ou mais elementos comuns em todos os os componentes. O trabalho do Sonho procede então como fazia Francis Galton ao produzir suas fotografias de família. Superpõe os diversos componentes, por assim dizer, fazendo-os coincidir um com o outro. O elemento comum a eles destaca-se então claramente da imagem conjunta, enquanto os detalhes contraditórios quase que se anulam mutuamente. Esse método de produção também explica, até certo ponto, os diversos graus da indefinição característica exibida por tantos elementos do conteúdo do Sonho. ... A interpretação do Sonho estabeleceu a seguinte regra: ao analisarmos um Sonho, um caso, uma incerteza se decomponham num "ou...ou", devemos substituí-las, para fins de interpretação, por um "e", e tomar cada uma das aparentes alternativas como um ponto de partida independente para uma série de associações.


      3° Sonho E Seu Processo De Criação - Quando um desses elementos comuns não se faz presente entre os elementos oníricos, o trabalho do Sonho trata de criá-lo, de maneira que seja possível dar aos pensamentos uma representação comum no Sonho. A maneira mais convincente de reunir dois pensamentos oníricos que a princípio não tem em comum é alterar a forma verbal de um deles, e assim aproximá-lo do outro, que pode estar similarmente revestido de uma nova forma de expressão linguística. Há um processo paralelo a esse na elaboração de rimas, onde o som semelhante tem de ser buscado da mesma maneira que o elemento comum em nosso caso. Grande parte do trabalho do Sonho consiste na criação desse tipo de pensamentos intermediários, que são amiúde altamente engenhosos, embora frequentemente pareçam forçados; estes criam então um vínculo entre a imagem composta no conteúdo manifesto do Sonho e os pensamentos oníricos, que são diversos em sua forma e essência e foram determinados pelos fatores motivadores do Sonho.

      ... Há muitas maneiras variadas de compor figuras desse tipo. Posso construir um personagem dando-lhe as feições de duas pessoas, ou posso dar-lhe a forma de uma pessoa mas pensar nela, no Sonho, como tendo o nome de  outra; posso ainda ter a imagem visual de uma pessoa, mas colocá-la numa situação apropriada a outra. Em todos esses casos, a combinação de diferentes pessoas num único representante no conteúdo do Sonho tem um sentido: destina-se a indicar um "e" ou um "assim como", ou a comparar entre si as pessoas originais em algum aspecto particular, que pode até ser específico no próprio Sonho. Em regra geral, contudo, esse elemento comum entre as pessoas fusionadas só pode ser descoberto pela análise e só é indicado no conteúdo do Sonho pela formação de figura coletiva. 



      4° A Condensação - Boa parte do que aprendemos sobre a Condensação nos Sonhos pode ser resumida nesta fórmula: cada elemento do conteúdo do Sonho é "sobredeterminado" pelo material dos pensamentos oníricos; não decorre de um único elemento dos pensamentos oníricos, podendo sua origem remontar a toda uma série deles. Esses elementos não precisam necessariamente ter uma estreita relação mútua nos próprios pensamentos oníricos; podem pertencer às mais, distantes e diversas regiões a trama desses pensamentos. O elemento onírico é, no sentido mais estrito da palavra, o "representante" de todo esse material diverso no conteúdo do Sonho. Mas a análise revela ainda um outro lado da complexa relação entre o conteúdo do Sonho e os pensamentos oníricos. Assim como as ligações levam de cada elemento do Sonho a diversos pensamentos oníricos, também cada pensamento onírico isolado, em geral, é representado por mais de um elemento do Sonho; os fios da associação não convergem simplesmente dos pensamentos oníricos para o conteúdo do Sonho, mas se cruzam e entrelaçam muitas vezes no discurso de sua jornada. 

      A Condensação, juntamente com a transformação dos pensamentos em situações ("dramatizações") é a característica mais importante e peculiar do trabalho do Sonho. Até agora, porém, nada transpirou sobre algum motivo que pudesse exigir essa compreensão do material.