sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

Sobre Os Sonhos

                                                   Sobre Os Sonhos
                                                   Uber Den Traum


                   (a) Edições Alemãs:
                     
                   1901 Uber den Traum. Publicada pela primeira vez como parte                              (págs.307-344) de uma publicação seriada, Grenzfragen des                                  Nervenund Seelenlebens, org. por L. Lowenfeld e H. Kurella,                                Wiesbaden, Bergmann.

                   1911 2ª edição. (Publicada como brochura separada e ampliada.)                            Mesmos organizadores, 44 págs.

                   1921 3ª edição. Munique e Wiesbaden, Bergmann, 44 págs.

                   1925 Nos Gesammelle Schriften de Freud, 3, 189-256, Leipzig,                            Viena e Zurique; Internationaler Psychoanalytischer Verlag.

                   1931 No volume coletivo de Freud, Sexualtheorie und Traumlehre,                        246-307, mesmos organizadores.

                   1942 Nas Gesammelle Werke de Freud, 2 e 3, 643-700, Londres,                           Imago Publishing Co.


                    (b) Traduções Inglesas:

                    1914 De M. D. Eder (com introdução de W. L. Mackenzie).                                   Londres, Heinemann; Nova Iorque, Rebman, XXXII + 110 págs.

                    1952 De James Strachey, Londres, Hogarth Press e Institute of                               Psycho-Analysis, VII + 80 págs. Nova Iorque, Norton, 120 págs.




      1º O Sonho E A Rejeição Mitológica - Durante a época que se pode descrever como pré-científica, os homens não tinham nenhuma dificuldade em descobrir uma explicação para os Sonhos. Quando se lembravam de um sonho depois de acordar, encaravam-no como uma manifestação favorável ou hostil de poderes superiores, demoníacos e divinos. Quando começaram a florescer as maneiras de pensar próprias da ciência natural, toda essa engenhosa mitologia se transformou em Psicologia, e hoje apenas uma pequena minoria de pessoas cultas duvida de que os Sonhos sejam um produto do próprio psiquismo do sonhador.




      2º O Sonho Carece Ser Esclarecido - Desde a rejeição da hipótese mitológica, porém, os Sonhos passaram a carecer de uma explicação. As condições de sua origem, sua relação com a vida anímica de vigília, sua dependência de estímulos que se impõem à percepção durante o estado de sono, as muitas peculiaridades de seu conteúdo que repugnam ao pensamento desperto, a incoerência entre suas imagens de representação e os afetos a elas ligados e, por fim, seu caráter transitório, a maneira como o pensamento de vigília os põe de lado como algo que lhe é estranho, e os mutila ou extingue na memória - todos esses problemas, e outros ainda, vem aguardando esclarecimento há muitas centenas de anos e, até agora, nenhuma solução satisfatória foi proposta para eles.

      Mas o que se coloca em primeiro plano em nosso interesse é a questão da Significação dos Sonhos, questão esta que encerra um duplo sentido. Em primeiro lugar, ela indaga sobre a Significação Psíquica do Sonhar, sobre a relação dos Sonhos com outros processos anímicos e sobre sua eventual função biológica; em segundo, busca descobrir se os Sonhos podem ser interpretados, se o conteúdo de cada Sonho tem um "sentido" tal como estamos acostumados a encontrar em outras estruturas psíquicas.




      3º As Linhas De Pensamentos Dos Sonhos - Na avaliação da significação dos Sonhos, três linhas de pensamento podem ser distinguidas.

      Uma delas, que ecoa, por assim dizer, a antiga supervalorização dos Sonhos, se expressa nos trabalhos de certos filósofos. Eles consideram que a base da vida onírica é um estado peculiar de atividade anímica e chegam até a aclamar esse estado como uma elevação a um nível superior. Por exemplo, Schubert [1814] declara que os Sonhos são a emancipação do espírito do jugo da natureza externa e a liberação da alma das amarras dos sentidos. Outros pensadores, sem irem tão longe assim, insistem, não obstante, em que os Sonhos brotam essencialmente de impulsos da alma e representam manifestações de forças anímicas impedidas de se expandirem livremente durante o dia. (Cf. a "Fantasia Onírica" de Scherner [1861, 97 e segs.] e Volkelt [1875, 28 e segs.].) Um grande número de observadores concorda em atribuir à vida onírica a capacidade de um funcionamento superior, pelo menos em certos âmbitos (na memória, por exemplo).



      4° A Visão Médica Sobre Os Sonhos - Em nítido contraste com isso, a maioria dos autores médicos adota uma visão segundo a qual os Sonhos mal chegam a atingir o nível de fenômenos psíquicos. Segundo sua teoria, os únicos instigadores dos Sonhos são os estímulos sensoriais e somáticos que incidem sobre a pessoa adormecida desde o exterior, ou que se tornam acidentalmente ativos em seus órgãos internos. O sonhado, argumentam eles, não pode reclamar para si mais sentido e significado do que, por exemplo, os sons que seriam produzidos se "os dez dedos de um homem que nada conhece de música vagassem pelas teclas de um piano". [Strumpell, 1877, 44.] Os Sonhos são descritos por Binz [´1878, 35] como não passando de "processos somáticos inúteis em todos os casos e, em muitos deles, positivamente patológicos". Todas as características da vida onírica, portanto. seriam explicadas como devidas à atividade desconexa de órgãos ou grupos de células isoladas num cérebro no mais adormecido, atividade essa que lhes é imposta por estímulos fisiológicos.




      5° Visão Popular Sobre Os Sonhos - A opinião popular é pouco afetada por esse juízo científico e não se interessa pelas origens dos sonhos; parece persistir na crença de que, apesar de tudo, os Sonhos possuem um sentido, que se relaciona com a predição do futuro e pode ser descoberto por algum processo de interpretação de um conteúdo frequentemente confuso e enigmático. Os métodos de interpretação empregados consistem em transformar o conteúdo do Sonho tal como ele é lembrado, seja substituindo-o aos pedacinhos, de acordo com uma chave fixa, seja substituindo a totalidade do sonho por um outro todo com o qual ela mantém uma relação simbólica. As pessoas sérias se riem desses esforços: "Traume sind Schaume" - "Os Sonhos São Espumas".