Resumo Do 4° Capítulo
O Homem Comportamental
O Homem Comportamental
01º As Diferentes Revisões Do DSM (Manual Diagnóstico E Estatístico Dos Distúrbios Mentais) - Os conceitos (Psicose, Neurose, Perversão) foram substituídos pela noção frouxa de "Distúrbio" (disorder = distúrbio, desordem), e as entidades clínicas foram abandonadas em favor de uma caracterização sintomática desses famosos Distúrbios. Assim, a Histeria foi reduzida a um Distúrbio Dissociativo ou "Conversivo", passível de ser tratado como um Distúrbio Depressivo, e a Esquizofrenia foi assimilada a uma perturbação do curso do pensamento etc.
Por outro lado, na tentativa de evitar qualquer polêmica, as diferentes versões do DSM acabaram por abolir a própria ideia de doença. A expressão "Distúrbio Mental" serviu para contornar o problema delicado da inferiorização do paciente, que, se fosse tratado como doente, imporia o risco de exigir "indenizações" do praticante do DSM e até de mover processos judiciais contra ele. Dentro dessa mesma perspectiva, o adjetivo "alcoólatra" foi substituído por "dependente de álcool", além de se haver preferido renunciar à ideia de "Esquizofrenia" em benefício de uma parífrase: "afetado por distúrbios que remetem a uma perturbação de tipo esquizofrênico".
Igualmente preocupados em preservar as diferenças culturais, os autores do DSM debateram a questão de saber se as condutas políticas, religiosas ou sexuais chamadas "desviantes" deveriam ou não ser assimiladas a Distúrbios Do Comportamento. Concluíram pela negativa, mas afirmaram também que o critério de "agnóstico" só teria valor se o paciente pertencesse a um grupo étnico diferente do examinador.
À medida que foram sucedendo as diferentes revisões, os promotores do DSM foram caindo um pouco mais no ridículo. Entre 1973 e 1975, chegaram até a se esquecer dos princípios fundamentais da ciência. Substituíram "Homossexualidade" por "Homossexualidade Egodistônica", expressão designativa daqueles que são mergulhados na depressão por suas Pulsões. Tratou-se, na verdade, como assinalou Lawrence Hartmann, de eliminar uma entidade nosográfica para substituí-la pela descrição de um estado depressivo ou ansioso passível de ser tratado pela Psicofarmacologia ou pelo comportamentalismo: "Acho preferível", disse ele, "não utilizar a palavra "homossexual", que pode prejudicar a pessoa. A palavra Depressão não cria problemas, nem tampouco Neurose De Angústia (...). Utilizo as categorias mais vagas e mais genéricas, desde que sejam compatíveis com minha preocupação com a verdade. As companhias de seguros estão convenientemente informadas de que os rótulos diagnósticos que lhes são comunicados são suavizados para não prejudicar o paciente.
Em 1975, uma comissão de psiquiatras negros exigiu a inclusão do Racismo entre os Distúrbios Mentais. Principal redator do Manual, Robert Spitzer rejeitou essa sugestão justificadamente, mas deu ao Racismo uma definição absurda: "No âmbito do DSM III, deveríamos citar o Racismo como bom exemplo de um estado correspondente a um funcionamento psicológico não ótimo, que, em certas circunstâncias, fragiliza a pessoa e conduz ao aparecimento de sintomas."
Os princípios enunciados no Manual foram tomados como fonte autorizada de um extremo a outro do planeta a partir do momento em que foram adotados pela Associação Mundial De Psiquiatria (WPA), fundada por Henri Ey em 1950, e, mais tarde, pela Organização Mundial De Saúde (OMS). Com efeito, na décima revisão de sua classificação das doenças (CIM-10), no capítulo F, a OMS definiu os Distúrbios Mentais e os Distúrbios Do Comportamento segundo os mesmos critérios do DSM IV. Por último, depois de 1994, na nova revisão do DSM (ou DSM IV-R), os mesmos princípios - denominados Zero-to-three (ou 0-3) - foram acrescentados ao estudo dos comportamentos considerados dissociativos, traumáticos e depressivos do bebê e das crianças pequenas.
Henri Ey |
O desmembramento dos quatro grandes modelos, que haviam permitido à psiquiatria dinâmica associar uma teoria do sujeito a uma nosologia e a uma antropologia, teve o efeito, portanto, de separar a Psicanálise da psiquiatria, de remeter essa última ao campo de uma medicina biofisiológica que exclui a Subjetividade e, mais tarde, de favorecer uma extraordinária exploração das reivindicações de Identidade e das escolas de Psicoterapia, primeiro nos Estados Unidos e, depois, em todos os países da Europa.
Nascidas ao mesmo tempo que a Psicanálise, essas escolas de Psicoterapia tem como ponto comum contornar três conceitos Freudianos, a saber, os de Inconsciente, Sexualidade e Transferência. Elas opõem ao Inconsciente Freudiano um Subconsciente Cerebral, biológico ou automático; à Sexualidade, no sentido Freudiano (conflito psíquico), ora preferem uma teoria dos instintos. Por último, opõem à transferência como motor do tratamento clínico uma relação terapêutica derivada da sugestão.
Entretanto, deve-se que constatar que somente a Psicanálise foi capaz, desde suas origens, de realizar a síntese dos quatro grandes modelos da psiquiatria dinâmica que são necessários a uma apreensão racional da Loucura e da doença Psíquica. Com efeito, ela tomou emprestado da psiquiatria o modelo nosográfico, da psicoterapia o modelo de tratamento psíquico, da filosofia uma teoria do sujeito, e da antropologia uma concepção de cultura fundamentada na ideia de uma universalidade do gênero humano que respeita as diferenças.
A menos que venha a se desonrar, portanto, ela não pode, como tal, contribuir para a ideia, hoje dominante, de uma redução da organização psíquica a comportamentos. Se o termo "Sujeito" tem algum sentido, a subjetividade não é mensurável nem quantificável: ela é a prova, ao mesmo tempo visível e invisível, consciente e Inconsciente, pela qual se afirma a essência da experiencia humana.